Sociedades médicas se baseiam em estudos para elaborar as recomendações para utilização da terapia hormonal, inclusive em sua relação com o câncer de mama
A decisão médica em indicar a terapia de reposição hormonal ainda é complexa, principalmente pelo fato dos estudos sobre o tema possuírem limitações e que não condizem com a prática clínica atual. Nesta semana, junto ao acadêmico de medicina da UNIFENAS, Romildo Oliveira, dou continuidade a essa discussão.
Por exemplo, um dos primeiros e mais famosos estudos sobre reposição hormonal, o WHI Ep trial, realizado no Estados Unidos na década de 1990 com mais de 16 mil mulheres pós-menopausa, concluiu que as participantes que realizaram a reposição hormonal tiveram um aumento significativo nos casos de câncer de mama. Contudo, as dosagens de hormônio utilizadas na época são muito mais elevadas que as atuais.
Mais recentemente, foi publicado em 2020 no JAMA, uma das mais importantes revistas médicas do mundo, um estudo com mais de 27 mil mulheres pós-menopausa, que afirmou que o uso prévio de estrogênio reduziu a incidência e mortalidade por câncer de mama.
Esses estudos são utilizados pelas sociedades médicas para elaborar as recomendações para utilização da terapia hormonal. Para a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), as principais contraindicações à terapia de reposição hormonal são história prévia de: câncer de mama e endométrio; infarto agudo do miocárdio (IAM) e acidente vascular encefálico (AVE).
Além disso, não é recomendada para quem tem casos de câncer de mama e endométrio na família (parentes de primeiro grau e principalmente se diagnóstico abaixo de 50 anos).
Em contraponto, para a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Estado de São Paulo (SBEM-SP), o histórico de câncer de mama na família, seja de mãe ou irmã, não contraindica a reposição hormonal na menopausa. A justificativa está em estudos científicos mais recentes que indicam que o uso de hormônios não altera a predisposição genética no desenvolvimento do câncer.
Para os especialistas da área, a relação entre o câncer de mama e a reposição hormonal existe, mas não deve ser encarada de forma generalizada para contraindicar a terapia, até mesmo para mulheres com histórico do câncer. Em números, os casos novos de câncer de mama associado ao uso de hormônios é de menos de 1 por 1 mil mulheres, de acordo com o Consenso Brasileiro de Terapêutica Hormonal da Menopausa de 2014.
Por fim, a terapia de reposição hormonal deve ser uma escolha individual e acordada com o médico especialista, devendo a paciente ter sido instruída sobre os riscos e benefícios do tratamento. Além disso, é importante salientar que nenhuma sociedade médica orienta a reposição hormonal sem antes passar por uma avaliação médica.
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