Dados recém-apresentados no Congresso Americano de Oncologia demonstram a importância de consórcios de pesquisa
Entre os dias 29 e 31 de maio aconteceu a reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia (ASCO). O evento que costuma ser realizado em Chicago (EUA) ocorreu de forma virtual devido à pandemia e reuniu milhares de médicos do mundo todo, com o foco em atualizações científicas sobre o câncer.
Ainda que existam dados limitados sobre a COVID-19 em pacientes oncológicos, um dos módulos do evento debateu o tema Coronavírus e câncer, com apresentação de dados inéditos de alguns estudos.
O estudo COVID-19 e Cancer Consortium (CCC19) foi realizado com 1.018 pacientes com neoplasias (câncer) sólidas ou hematológicas. A idade média foi de 66 anos, sendo os cânceres de mama (20%) e próstata (16%) os mais prevalentes. No momento da análise dos dados, 106 pacientes (10,4%) haviam morrido e 26% tinham tido desfechos graves.
Os fatores associados ao aumento da mortalidade em 30 dias foram: idade, sexo masculino, tabagismo anterior, fragilidade clínica, malignidade ativa e recebimento de azitromicina e hidroxicloroquina.
Outro estudo, chamado TERAVOLT, foi lançado em março de 2020 com o objetivo de coletar informações sobre pacientes com câncer na região do tórax (principalmente câncer de pulmão) infectados com a COVID-19. Essa colaboração global envolve 21 países em todo o mundo e é endossada por várias sociedades internacionais de oncologia.
Para os primeiros 200 pacientes no registro, a idade média foi de 68 anos, com a maioria dos pacientes do sexo masculino e fumantes atuais/ex-fumantes. 73,5% apresentavam doença em estágio IV (metastática).
Pelo menos uma comorbidade foi observada em 83,8% dos pacientes, sendo a hipertensão a comorbidade mais comum (47%), seguida pela DPOC - doença pulmonar obstrutiva crônica (25,8%).
A apresentação clínica da COVID-19 mostrou um perfil semelhante aos sintomas do câncer de pulmão, sendo os mais comuns febre, tosse e dispneia, dificultando o diagnóstico do vírus. As complicações mais comuns foram pneumonia/pneumonite (79,6%) e síndrome do desconforto respiratório agudo (26,8%). A maioria dos pacientes foi hospitalizada (76%) e um terço deles faleceram.
E o que podemos concluir com esses estudos? Primeiro: é necessário um acompanhamento mais longo para entender melhor o impacto da COVID-19 nos resultados de pacientes com câncer.
Segundo: além de ser fator de risco para o câncer e várias outras doenças, pacientes oncológicos fumantes podem ter formas mais graves de infecção por coronavírus.
E por último, a união de centros médicos e de pesquisa é fundamental para obtermos respostas mais rápidas e conclusivas em relação à infecção por coronavírus e seus desfechos em pacientes oncológicos.
Tem alguma dúvida ou gostaria de sugerir um tema? Escreva pra mim: carolinavieiraoncologista@gmail.com
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